Quem tem acompanhado as notícias da Argentina tem visto que os nossos Hermanos estão em uma crise severa. O país já perdeu o controle sobre a inflação, as empresas estão saindo em peso de lá e a pobreza está aumentando rapidamente.
Isso tem assustado nós Brasileiros porque o Brasil é um país com muitas semelhanças políticas e econômicas com Argentina, além do que ele ssão um dos nossos principais parceiros econômicos e, de uma forma ou de outra, as nossas histórias sempre andaram de mão dadas.
Além disso, tal como lá, por aqui também estamos enfrentando problemas com as nossas contas públicas.
Mas qual que é o tamanho desse nosso problema? Será então que o Brasil corre risco de se tornar uma Argentina? Ou será um exagero pensar nisso?
Certa vez eu escutei uma frase de que os processos de falências eles acontecem de forma lenta, e aí de repente.
Ou seja, não importa se é uma loja, uma empresa, ou uma nação, o processo de falência é semelhante. Ele é visível! Mas ele também é devagar. E justamente por ser lento, demorado, é normal que a gente acredite que seja algo que ainda esteja distante no tempo, até que somos surpreendidos por uma falência que acontece de forma repentina.
Devagar, até que de repente!
E depois eu fui descobrir que essa frase foi tirada de um romance chamado “O sol também se levanta”, de um escritor americano chamado Ernest Hemingway.
Mas, em todo caso, a gente não está aqui pra conversar sobre livros de romance.
Aqui a gente conversa sobre business, sobre investimento, planejamento tributário e internacionalização. E o assunto de hoje é muito sério e tem tudo a ver com investimentos.
Afinal, goste você ou não, o fato é que o desempenho das bolsas de valores é muito atrelado ao desempenho das contas públicas do nosso país, principalmente se as nossas dívidas forem muito elevadas.
Isso ocorre porque os investidores globais, quando vão analisar em qual país emergente que eles vão aportar os seus recursos destinados ao risco, eles verificam qual que é o tamanho da dívida que esse país possui em relação ao seu PIB.
Se a dívida for muito elevada, significa que o país tem maior risco não apenas de dar o calote nos títulos de renda fixa, mas também de hiper-inflacionar a moeda, e isso afugenta investidores e faz com que o desempenho da nossa bolsa fique comprometido.
Enfim, é por isso que precisamos ficar de olho na relação dívida pib. Quanto mais alta for a relação da dívida PIB pior e, se ela chegar a 100, isso significa um colapso das contas públicas.
E, devo te dizer, as projeções do futuro da nossa dívida não são nada boas.
Ao menos é essa a conclusão que você chega quando você vê o relatório quadrimestral da dívida pública divulgado pelo Ministério da Economia em 2 de julho de 2020.
O RELATÓRIO QUADRIMESTRAL DA DÍVIDA PÚBLICA FEITO PELO GOVERNO
Nesse relatório, o Ministério da Economia faz um exercício de imaginação do que deve acontecer na economia brasileira até 2029 com base em umas variáveis hipotéticas.
Então ele coloca lá: “ah, se a gente tiver um crescimento do PIB médio de tantos por cento nos próximos anos, um dólar a tanto e a taxa de juros a tanto, a gente deve ter um déficit de x esperado para os próximos anos”, já se no cenário 2, que é um pouco melhor, o déficit é de y, e no cenário 3, que os parâmetros são um pouco piores, a gente deve ter um resultado z de déficit.
E é exatamente isso que você vÊ nesse gráfico abaixo. DSLP significa Dívida Líquida do Setor Público. Você vai perceber, no meio, a projeção que eles consideram base, que é ter uma dívida de 83% do PIB no auge, em 2027, sendo que em 2029 já vai estar caindo e vai estar em 81,7% do PIB.

Esse é o cenário base, com os parâmetros de pib, de dólar, de juros que o governo considera mais provável.
Aí no extremo de baixo a gente vai ter o cenário que o governo considera mais otimista, que é ter a dívida líquida do setor público em relação ao PIB de apenas 60% lá em 2029.

E no extremo de cima a gente vai ter o cenário que o governo considera mais pessimista, que é ter a dívida de 107% do PIB lá em 2029.

Mas sabe qual é o problema de todas essas projeções do governo? Que mesmo a projeção mais pessimista deles utiliza parâmetros que são demasiadamente otimistas.
Se você for ver a projeção base que eles estão imaginando, que é essa do meio aqui no gráfico, o Brasil só vai conseguir alcança-la caso mantenha um crescimento médio do PIB de 2,6% ao longo dos próximos 10 anos, não menos do que isso, uma inflação de apenas 3,6%, o dólar a 4,95 e a Selic a 5,4%.
Bem, quem já viu o meu vídeo sobre preço justo do dólar, já sabe que o dólar tem tendência de alta em relação ao real no longo prazo.
Então qual que é a chance de eles conseguirem manter um dólar médio de 4,95 ao longo de 10 anos? Eu acredito que seja baixa, ainda mais com uma Selic média de 5,4%.
E tem um outro detalhe que não é levado em consideração aqui, que é o fato de que, beleza, vamos supor que o Paulão Guedes realmente seja monstro e consiga cumprir aí com essa projeção base.
Ainda assim cara, a gente tem que lembrar que essas projeções aí são de um governo liberal, que quer cortar gastos. Mas até 2029 a gente tem duas eleições presidenciais aí no meio desse caminho. Se a gente eleger alguém que não tem planos de austeridade fiscal, aí a dívida decola!
Então eu pessoalmente tenho a perspectiva de que o cenário daqui pra frente não é nada positivo pro Brasil. Daqui pra frente, acho que a gente só vai andar pra trás.
A propósito, até agora a gente tá falando de dívida líquida do setor público, a DLSP, mas se a gente for olhar pra dívida Bruta, a situação é ainda pior. Conforme o Fundo Monetário Internacional alertou, a nossa dívida bruta em relação ao PIB deve bater 101% já agora em 2020 e que em abril de 2020 esteja lá em 104% em relação ao PIB.
Ou seja, o FMI projeta que o brasil já vai quebrar nesse ano e vai continuar pagando a conta durante toda a próxima década.
OU SEJA….
O fato é que Brasil até tava arrumando a casa e tinha uma chance de fugir dessa dívida pública, mas com essa crise do lockdown aí a gente jogou tudo fora. Pra se ter uma ideia, em um ano a gente já gastou o que se estimava economizar em 10 anos com a reforma da previdência aprovada. No primeiro ano depois da reforma, já retornamos para aquela situação que a gente tava antes, de precisar urgentemente de reformas pra não quebrar.
E sabe o que é o mais surpreendente de tudo isso? Que simplesmente não tem quase ninguém falando sobre isso.
Na última vez que a gente chegou próximo a uma situação como essa, o Congresso Nacional tava preocupado com o impacto que isso causaria na economia e teve muita briga política pra passar reformas, até impeachmar uma presidente eles conseguiram
Aí hoje essa pauta tá beem de segundo plano. Primeiro é pandemia, depois é eleições, e só depois começa a pensar ai nas contas públicas e em reforma tributária.
VAMOS VIRAR A ARGENTINA?
Então respondendo a pergunta do título, será que a gente vai virar uma Argentina da vida?
Bem, a dura verdade é que, caso o Brasil não faça o seu dever de casa, pode ser sim que isso aconteça. Mas a boa notícia é que ainda dá tempo de fazer o dever de casa.
E tem duas maneiras de fazer isso.
A primeira, que é bela e moral, é reduzir gastos. Política de austeridade fiscal, cortar da própria carne, privatização de empresas.
E a segunda é aumentar a arrecadação, ou seja, passar uma reforma tributária que consiga taxar mais ainda mais as pessoas.
Infelizmente, o mais provável é que o Brasil siga por essa segunda “solução” e aumente os impostos.
E eu digo “solução” entre aspas porque, realmente, aumentar impostos pode até dar um gás pras contas públicas não entrarem em colapso nos próximos anos, já que vai aumentar a arrecadação em um primeiro momento.
Mas, por outro lado, aumentar imposto significa atravancar a economia no médio e longo prazo. Imposto alto é um desincentivo pra se empreender no Brasil. Quanto maior a carga tributária, menor se torna a produtividade das empresas e a quantidade de investidores interessados em trazer recursos pra cá.
Afinal, por que os bilionários que movem a economia vão querer vir pra cá se for pra serem taxados? Melhor levar esse dinheiro e recursos pra um lugar onde eles são mais bem recebidos.
E pra ser sincero, eu acredito que essa reforma tributária que está em pauta não vai ser o suficiente para resolver o problema das contas públicas. No máximo vai deve melhorar um pouco a situação, mas aqui no Brasil esse problema é crônico e eu entendo que somente reformas estruturais seriam capaz de resolvê-los.
E é improvável que tais reformas aconteçam. O mais provável que o Brasil continue empurrando o problema com a barriga até o dia que isso for impossível. E se vai ser nessa década ou só daqui há 100 anos eu não sei, mas ora ou outra esse dia deve chegar.
E, enquanto isso, a gente tem duas escolhas. Uma é negligenciar o problema e contar com a boa vontade dos políticos para resolvê-lo, e a outra é começar a internacionalizar o patrimônio pra não ser mais refém das crises brasileiras.
Eu preferi escolher a segunda opção, até porque eu já não confio meu patrimônio na boa vontade de político quando a economia está boa, quem dirá em um cenário crítico como esse que estamos atualmente.
E você, qual a sua opinião sobre isso? Críticas e opiniões diferentes são sempre bem vindas aqui no canal. Deixe um comentário contando se você concorda ou não, e também qual que é a sua rota de fuga!