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Carnaval, Coronavirus, e QUEDA DO MERCADO

Feriado de Carnaval, 2020. Tempos de festividades, folia, fantasias, samba, axé, praia, verão, sol, e mar.

Talvez a última coisa que você queira ouvir neste feriado seja sobre bolsa de valores. Mas o fato é que aconteceram eventos importantes nessa segunda-feira de carnaval que precisam ser apontados. Vamos falar sobre eles no artigo de hoje e, sim, vamos colocar o dedo na ferida.

E os acontecimentos são os seguintes:

(1) Enquanto a B3 está fechada pelo feriado, o mercado internacional DESPENCOU. As empresas americanas listadas lá fora acompanharam a queda. A ADR da Petrobrás na NYSE caiu 6,77% (ticker: PBR); a do ITUB caiu 3,77% (e hoje, terça, já abriu caindo mais 3,2%); e o EWZ, o fundo (ETF) que replica o IBOV no mercado americano, caiu 4,99%. O estopim de das quedas foi causado pelo coronavirus.

(2) Enquanto a B3 está fechada pelo feriado, a Bolsa de Valores de Nova Iorque tira sarro com a Bolsa brasileira em seu twitter, falando que a casa das empresas brasileiras é a NYSE e não a a B3. A reação dos influencers daqui foi esquisita. Precisamos falar sobre isso.

Então vamos lá. Vamos refletir sobre cada um deles.

(1) O Brasil é o país do feriado – e isso é péssimo para os investidores

O Brasil é o 7º país do mundo que mais possui feriados, e nem sempre quando é feriado aqui também o é nas maiores economias mundiais.

E essa segunda de carnaval não foi diferente. Enquanto nós emendamos a folia, houve pregão normal nas principais bolsas de valores mundiais.

Quer dizer, o pregão não foi tão normal assim. Em realidade, a sangria foi feia. A essa altura você já deve ter tomado ciência sobre o impacto do coronavirus nos mercados internacionais, mas, se você quiser um resumo, veja essa imagem:

No Brasil, como a B3 estava fechada, a gente se livrou da queda, certo? Errado!

Todas as vezes que a Bolsa de Valores fecha no Brasil, o investidor fica impedido de desfazer suas posições. Porém, a maior parte das bluships brasileiras listadas na B3 possuem um ADR que as representa nas bolsas americanas. Grosso modo, é se essas empresas também fossem listadas nas maiores bolsas do planeta – bolsas essas que não fecharam nessa segunda-feira de carnaval.

Dentre elas, temos as blueships Ambev, Bradesco, Gerdau, Petrobras, Vale, Itau. Além do próprio EWZ, que é um ETF que replica o IBOV, ou seja, um equivalente ao BOVA11, porém cotado em dólar listado no mercado americano.

E sabe como as empresas brasileiras performam lá fora nessa segunda de carnaval? Veja:

PERFORMANCE DAS PRINCIPAIS ADRs BRASILEIRA NA SEGUNDA DE CARNAVAL 2020
EMPRESA (TICKER)VARIAÇÃO
Ambev (ABEV)– 2,45 %
Bradesco (BBD)– 3,31%
Gerdau (GGB)– 3,42%
Petrobras (PBR)– 6,77%
Vale (VALE)– 7,53%
Itaú (ITUB)– 3,67%

Por aqui o mercado estava fechado e, provavelmente, na volta do feriado, a maior parte dos ativos já vão abrir com um GAP de baixa.

Isso é uma queda de proporção média. Sequer é um cisne negro. Mas que sirva de lição para que saibamos que cisnes negros, embora raros, podem acontecer. E se ocorrerem em um dia que o mercado tá fechado apenas no Brasil? Como você vai zerar sua posição?

Se você quer se tornar um investidor anti-frágil, você não pode ignorar os cisnes negros. O pensamento não pode ser “a chance disso ocorrer é 1%, então to tranquilo, vou de ​all in ​na B3 mesmo”. O pensamento tem de ser “o que eu vou fazer caso ocorra aquilo cuja chance é de 1%? Como vou me proteger disso? E mais, como vou ganhar dinheiro com isso?”

E sabe como você pode evitar as incertezas? Uma opção é comprar ADRs das principais empresas brasileiras. ADRs são títulos representativos de ações de empresas brasileiras listados na bolsa de valores americana.

E por que comprá-los? Porque, como dito, o Brasil é o 7o país do mundo com mais feriados e nem sempre acontece de ser feriado aqui e lá também. Aliás, via de regra o feriado é só aqui. Assim, caso aconteça algum evento inesperado, você pode se desfazer de sua posição mesmo com o nosso mercado fechado, caso essa seja sua estratégia.

Nada de ter de esperar até o fim do carnaval para desfazer a posição com um prejuízo ainda maior.

(2) A B3 é uma bolsa de valores ainda muito incipiente e perde de lavada para a NYSE

Como nós sempre comentamos aqui na Capital Global, a B3 é uma bolsa de valores extremamente incipiente. Ela representa apenas menos de 1% de todo o mercado de ações mundiais e apenas cerca de 400 empresas listadas.

Para efeitos comparativos, lá nos Estados Unidos, há duas bolsas de valores, a NASDAQ e a NYSE, que representam praticamente a METADE do mercado de ações mundial. São cerca de 3 mil ativos listados em cada uma delas. Somente a Apple, sozinha, tem mais volume de negociação diário do que TODOS os ativos da bolsa brasileira SOMADOS.

Além disso, a NYSE e a NASDAQ estão em um país com maior segurança jurídica e de moeda forte. Isso protege as empresas e os investidores americanos da inflação, do confisco e, principalmente, da dilapidação do patrimônio decorrente da depreciação da moeda.

A conclusão disso? Diversas empresas brasileiras enxergaram o óbvio: o fato de que é muito mais vantajoso abrir capital lá fora do que por aqui. É o caso da Neoway, da XP, da Lynx, da Ayfa, da PagSeguro, da Stone, e da Nexa Resources (ex-Votorantim Metais).

E sabe de uma coisa? Isso tem gerado muita polêmica nos bastidores do mercado de capitais brasileiro.

Por exemplo, muitos influencers protestaram os seus descontentamentos com o post que a bolsa de valores de nova iorque fez essa semana em seu twitter, alegando que “o Brasil é o país do Carnaval, e a NYSE é a bolsa das empresas brasileiras de tecnologia”.

A alfinetada que a  NYSE deu na B3 despertou reações diversas. Mas todos chegaram ao consenso de que a B3 precisa melhorar o ambiente para as empresas brasileiras preferirem a bolsa brasileira, bem como trabalhar no marketing para atrair investidores pessoas físicas a investir por aqui.

No entanto, poucos admitiram que o problema vai muito além da B3, e passa pela nossa instabilidade econômica e insegurança jurídica. Não há marketing que a B3 possa fazer, a bolsa americana continuará mais convidativa, tanto para as empresas quanto para os investidores.

POR TODO O EXPOSTO, acho que valeu a pausa no carnaval para essa breve reflexão, não é mesmo? Te vejo na quarta-feira de cinzas!

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