Como você deve saber, a Capital Global é uma empresa voltada à trazer conhecimento ao brasileiro sobre os problemas de limitar os seus investimentos ao território Brasileiro e a importância de diversificar para além de nossas fronteiras.

Assim, nós ensinamos nossos clientes sobre as várias alternativas de se ganhar dinheiro e de proteger o seu patrimônio bem longe das incertezas de nosso país.

É exatamente por isso que temos pelo menos três perfis de clientes diversos. Alguns acompanham nossos textos para saber sobre a economia mundial e as bolsas de valores americanas. Outros, acompanham para absorver informações sobre empreender fora do brasil ou blindar seu patrimônio em estruturas offshores. E há ainda aqueles, via de regra mais jovens, que nos acompanham para saber sobre criptomoedas.

Sabe o que isso significa? Que boa parte dos nossos leitores, principalmente aqueles com mais de 30 anos, são entusiastas quanto à ideia de diversificação internacional e de mitigação do risco brasil em offshores, mas não acreditam nas criptomoedas.

E qual é a posição da Capital Global? Bom, nós entendemos que o mercado de criptos ainda é muito incipiente e possui problemas sérios que devem ser superados. Apesar disso, somos entusiastas das criptomoedas e acreditamos no potencial de algumas delas.

Vale dizer, para elaborar o plano CG Crypto Research, nós já estudamos mais de 600 (SEISCENTAS) criptomoedas. Hoje nossa carteira de criptativos conta com 8 delas, e nosso plano de assinatura, que ainda está em fase beta, já conta com mais de dez relatórios publicados, sendo que cada um deles é fruto de estudo detalhado sobre alguma cripto específica ou sobre algum fator determinante deste mercado.

Mas esse não é o ponto aqui. O ponto é que, desde o início da Capital Global, quase todos os textos sobre criptomoedas que foram postados gratuitamente em nossas redes tem despertado calorosos debates.

Afinal, uma parte dos nossos leitores é pessimista com criptomoedas e, vou te falar, eles trazem muitos argumentos sólidos e despertam profundas reflexões em nossa equipe! (a propósito, muito obrigado a todos vocês que são leitores de alto nível).

Nesses debates entre os pessimistas e os otimistas quanto às criptos, você sabe qual é o ponto que mais suscita questionamentos? Sim, é o título deste artigo:

“O bitcoin não possui lastro”

Pois bem. Antes de entrar na questão de o Bitcoin possuir ou não possuir lastro, é necessário entendermos melhor o que é o lastro de uma moeda. Depois, falaremos um pouco sobre o lastro das moedas fiduciárias. Feito tudo isso, teremos condições de adentrar à última parte deste artigo e responder a pergunta sobre o lastro do Bitcoin.

O que é o lastro de uma moeda?

O lastro é a “garantia implícita” de algum ativo, no caso, a garantia implícita de alguma moeda.

Mas, mais importante do que a definição de lastro, você precisa entender qual a FINALIDADE de se ter essa garantia mínima em algum ativo:

O lastro serve para garantir uma ESCASSEZ de algo e, consequentemente, manter o seu valor.

Portanto, a finalidade do lastro é dar segurança e estabilidade ao patrimônio. É evitar sua desvalorização. É evitar a venezuelização de seus bens. No mínimo, o vale emitido por mim vai valer aquela barra de ouro que eu possuo no meu cofre.

Veja que é a escassez do ouro é o que dá valor à moeda que o utiliza como lastro.

Por exemplo, digamos que eu lhe entregue um papel escrito “Vale uma barra de ouro de 1 quilo”. Esse papel, por si só, não vale nada além da minha palavra de que vou lhe dar um quilo de ouro.

Porém, caso eu demonstre que essa barra de ouro está no meu cofre, e que com este papel, na hora em que você quiser, você pode retirá-la, agora o papel com o meu rabisco além de ter a minha palavra, está lastreado na barra de ouro que eu deixei guardada. Juntas, minha palavra e a barra são a “garantia implícita” deste papel.

A importância do lastro em algo estável

Você que já possui algum dinheiro, e mesmo você que deseja enriquecer ainda mais, precisa se atentar a que ativo o seu patrimônio está lastreado.

Por exemplo, se você ganhar um milhão de reais, mas o real desvalorizar 99% em relação ao dólar, o seu um milhão de reais é equivalente a ter ganhado apenas alguns centavos de dólares.

De que adiantaria enriquecer se o seus bens estiverem lastreados em uma moeda que passe a não valer nada?

Mas esse exemplo do Real parece absurdo, eu sei. Ninguém imagina que o Real possa desvalorizar 99% em relação ao dólar. Mas, nos anos 90, ninguém imaginava que algo assim iria acontecer com o Bolívar Venezuelano.

Se você fosse um Venezuelano que enriqueceu nos anos 90, hoje, os seus milhões de bolívares, resultado de anos de trabalho, não serviriam nem para comprar sequer uma passagem de ônibus para fugir de seu país. Sorte daqueles que mantiveram seus bens quotados em dólares ou alguma outra moeda forte.

Enfim, acho que todos já devem ter entendido a importância de manter seus bens em uma moeda que possui LASTRO. Mas, qual é o lastro das moedas estatais?

Qual o lastro das moedas estatais?

As moedas estatais nasceram como uma espécie de “vale-ouro”, assim como o papel emitido por mim do exemplo acima.

Se você gosta de dinheiro, busque saber um pouco dessa a história que eu vou te contar agora.

Houve um tempo em que o próprio Ouro era a moeda em circulação. Porém, como é arriscado e difícil percorrer longas distâncias com este metal precioso, algumas empresas começaram a distribuir um “vale-ouro” para seus clientes.

O serviço era o seguinte: se você fosse precisar do seu ouro em uma cidade distante durante uma viagem, ao invés de carregá-lo consigo, você depositava na sua cidade de origem em troca de um “vale-ouro”, e depois utilizava-se deste vale para resgatá-lo em uma filial da empresa localizada na cidade destino. Essas empresas se tornaram os bancos.

Após, o Dólar e as demais moedas foram uma evolução desses papéis lastreados em ouro. De tal maneira, por muito tempo, o papel moeda estatal era um certificado de que X quantidade de, digamos, dólar, era o equivalente a Y quantidade de ouro.

Portanto, a garantia implícita da moeda estatal era o Ouro que o estado possuía, acrescido da palavra do estado de que teria este ouro para lhe entregar. Em outras palavras, o ouro era o lastro do dólar dado pelo Estado. 

Ocorre que, em tese, embora isso possa causar problemas, uma moeda não precisa necessariamente ser lastreada em algo para ser adotada em massa. Ou seja, o dólar não precisa realmente ter uma garantia implícita, não precisa ser conversível em ouro – basta que as pessoas o utilizem como moeda e não o convertam nunca.

Diante disso, os EUA, em 1971, romperam com o padrão ouro-dólar, de modo que esta moeda passou a estar lastreada em nenhuma commodity escassa. A única coisa que a garante é a confiança que as pessoas tem em seu emissor e controlador, o Estado americano.

Voltando ao meu exemplo, é como se o papel escrito “Vale uma barra de ouro de 1 quilo” que eu emiti, agora, se amparasse apenas na minha palavra de ele possui tal valor, ainda que eu não tenha mais a barra de ouro guardado em meu cofre.

A diferença, contudo, é que o Estado tem o monopólio da força. Então, em tese, você é obrigado a usar a moeda que ele impõe. Já se eu falar que tenho ouro e não tiver, como não posso lhe obrigar a utilizar meu vale ouro, você pode parar de aceitar o meu vale.

Dessa forma, resta-nos concluir que nenhuma moeda hoje em dia possui lastro. Se há alguma espécie de lastro, é o curso forçado, a obrigatoriedade em utilizar a moeda fiduciária.  Ou seja, estamos na era em que o dinheiro é baseado no “lastro governamental”.

Ou, como diriam alguns, nosso dinheiro é um “pedaço de papel colorido lastreado na confiança na honestidade e no bom trabalho de políticos”. Embora radical, essa definição é bastante didática.

Em todo caso, o fato é que o lastro governamental não garante nada para o detentor da moeda (população), mas apenas para o emissor (Estado).

Afinal, o lastro veio como uma forma de garantir a escassez da oferta da moeda. No momento em que a escassez não é mais garantida, o usuário não tem mais a garantia de que a moeda sempre valerá X quantidade de ouro.

O lastro governamental serve apenas para o Estado, como uma garantia de que vai ter demanda, independente de ser mantida a escassez da moeda ou de esta ser inflacionada.

O ouro possui lastro?

Nós vimos que uma moeda a moeda estatal costumava ser lastreada no Ouro, embora hoje seja lastreada apenas no seu curso forçado. Mas, e o ouro, por sua vez, era lastreado em que?

Em realidade, o Ouro, por si só, não é lastreado nenhum outro ativo.

Contudo, o Ouro possui qualidades intrínsecas. Suas propriedades físico-químicas o tornam um metal naturalmente escasso e impossível de ser inflacionado.

Portanto, o lastro do ouro seriam as suas próprias características intrínsecas. O lastro do ouro é ele mesmo, no auge de suas qualidades que o diferenciam.

POR FIM: Qual o lastro do Bitcoin?

E aqui vai a analogia com o Ouro:

O bitcoin, por si só, não é lastreado em nenhum outro ativo.

Contudo, assim como o Ouro, o Bitcoin seria um ativo “lastreado” em si mesmo. Da mesma maneira que o Ouro, o Bitcoin possui qualidades intrínsecas que o diferenciam. Suas propriedades matemáticas, decorrentes da blockchain, o tornam um ativo naturalmente escasso e impossível de ser inflacionado.

Portanto, o “lastro” do bitcoin seria as suas próprias características intrínsecas. O lastro do bitcoin é ele mesmo, no auge de suas qualidades que o diferenciam.

CONCLUSÃO

Tem razão quem diz que o Bitcoin não possui lastro – ao menos não em nenhum outro ativo. Mas o fato é que essa ausência de lastro do bitcoin é equivalente à ausência de lastro do ouro. Pouco importa.

O Bitcoin é “lastreado” em si mesmo, pois possui intrinsecamente as qualidades que os tornam escassos, característica essa que é a principal para uma boa moeda. O Bitcoin, muito mais do que o Real, pode evitar a venezuelização do seu patrimônio.

Porém, vale a ressalva de que o bitcoin tem as características intrínsecas necessárias para servir de lastro, mas, atualmente, ainda é bastante volátil. Com efeito, lastrear seu patrimônio em bitcoin o sujeitará a uma flutuação INSANA (hora você tem mil reais, outrora 50 mil reais, em seguida mil reais novamente! Haja coração… rsrs).