Estaria o Luiz Barsi, que é considerado o Warren Buffett brasileiro, completamente errado quando o assunto é investimentos no exterior?
Como você provavelmente já sabe, o Luiz Barsi, além de também ser um advogado e economista, é considerado o “Warren Buffett brasileiro”, já que ele construiu na bolsa de valores brasileira uma fortuna de nada mais nada menos do que cerca de 2 bilhões de reais.
2 BILHÕES de reais.
O que o torna o maior investidor brasileiro pessoa física.
E o mestre Barsi, que hoje já tem mais de 80 anos, tem uma linda história de vida, porque ele era só um filho de imigrantes que começou do nada. Pra você ter uma ideia, no começo da carreira dele ele era engraxate, e a infância dele foi difícil, considerando que ele ficou órfão de pai quando ainda era bebê.
E ele simplesmente foi de engraxate para bilionário e o maior CPF da bolsa brasileira. O Barsi definitivamente é um mito dos investimentos e fez fortuna fazendo análise fundamentalista de empresas, comprando ações na bolsa de valores, e deixando os juros agirem com o passar do tempo.
E, bem, um mestre com uma bagagem como essa do Barsi realmente é um monstro quando o assunto é investimentos, MAS o curioso é que o Barsi tem uma opinião bastante peculiar quando o assunto é investimento no exterior.
Quer dizer, como eu já falei naquele meu vídeo em que eu contei 3 hábitos dos maiores bilionários brasileiros que não contaram pra você, os mais ricos do Brasil, que tem o patrimônio até 30 vezes maior do que o Luiz Barsi, eles tem o costume de INTERNACIONALIZAR as suas fortunas, de cotar o patrimônio em dólares, de investir em empresas multinacionais que estão bem longe daqui e de diversificar em países com maior segurança jurídica.
Mas o meu ponto pro artigo de hoje é que o Luiz Barsi nada contra a corrente dos bilionários quando o assunto é investimento no exterior e diz aos quatro cantos que investir fora do brasil não é interessante.
Isso mesmo, o Luiz Barsi é contra investimentos no exterior. Bem, ao menos é isso que ele diz pra todo. Se ele diz isso porque é o que ele acredita ou porque ele tem outros interesses não tenho como saber.
Em todo caso, o fato é que eu discordo de todos os argumentos que ele diz para defender que investir no exterior é ruim. E eu já vou te contar quais são e porque eu discordo.
Mas antes deixa eu fazer um esclarecimento, porque eu tenho certeza que vai ter aquele que vai dizer: “bem, quem é Guilherme do lado do Barsi? Faz 1 bilhão de reais primeiro e depois a gente conversa”.
E, realmente, comparado ao Barsi eu sou um sem-teto, e pode até soar um pouco arrogante discordar de um mestre desses. Pode parecer que eu to querendo ensinar o padre a rezar a missa.
Em todo caso, como eu falei, o Barsi é um dos poucos bilionários brasileiros que é contra investimentos no exterior, de onde eu concluo que todos os bilionários que tem cacife pra discordar do Barsi nesse ponto, discordam e investem de forma internacional.
Ou ainda, de onde eu concluo que o Barsi é o único padre que tá rezando a missa de sunga na igreja. Bem, e não precisa ser padre pra perceber que tem alguma coisa no mínimo esquisita em rezar uma missa de sunga quando todos os outros rezam a missa de batina.
Quem sou pra questionar o padre, mas, creio eu que algo de errado não está certo aí em rezar missa vestindo sunga.
Além do que eu nunca gostei de argumento de autoridade, eu sempre preferi argumento de lógica, análise crítica. Então pouco importa se, sei lá, o maior astrônomo do planeta vier me dizer que a terra é plana, porque eu vou continuar com a opinião de que a terra é esférica, já que eu fiz uma análise crítica e conclui terra plana, na minha opinião, não faz o menor sentido lógico.
Ou ainda se o Warren Buffett virar e falar que vai vender tudo que tem e colocar todo o patrimônio dele na telexfree, eu vou continuar com a opinião de que a telexfree é uma pirâmide. “Ah, mas é o Warren Buffett”. Tudo bem, mas continua sem lógica o que ele fez.
Então, esclarecido isso, eu peço licença pra discordar dos motivos que levam o Barsi a não investir no exterior.
Motivo n. 1 do Barsi: Investir no exterior é difícil e muito caro
Recentemente, o Barsi apareceu em um vídeo em um canal do youtube em que ele defendeu que investir no exterior não vale a pena por causa da questão da remessa de valores para fora do Brasil. Segundo ele, o trâmite pra mandar dinheiro pra fora é complicado e custoso, e tem também a questão do questão do câmbio, do dólar que tá alto.
E, bem, eu não acho que o Barsi está completamente errado nesse ponto. Na verdade, ele só está desatualizado. O que acontece é que, até muito pouco tempo atrás, era quase impossível de tão difícil e caro que era pro brasileiro médio enviar pro exterior para investir fora daqui.
Pra você ter ideia, nos anos 90 não podia ter sequer um único investimento aqui no Brasil que fosse lastreado em dólares.
Aliás, os anos 90 do brasil era coisa de outro mundo mesmo, teve até aquela história super interessante dos Export Notes, que os advogados do Citibank deram um jeito de fazer uma gambiarra jurídica pra conseguir oferecer pros seus clientes de maior renda investimentos atrelados a dólares, passando por cima da proibição, e a tese deles acabou colando, enfim, a história que eu contei no vídeo chamado “Por que o Brasileiro ainda não investe no exterior?”.
Então não deixa de conferir aquele vídeo também não, porque essa história é muito boa, eu pessoalmente achei genial e seria muito legal se você soubesse também.
Mas voltando aqui, o ponto que eu quero chegar é que o Barsi é um investidor mais das antigas, e durante quase toda a jornada dele, realmente, investir fora do Brasil não era uma tarefa nada fácil.
Então, é até compreensível porque ele entende que não compensa. Pode ser que antigamente, como a dor de cabeça era tão grande, realmente não compensasse.
Contudo, hoje em dia o cenário já é bem diferente. A gente consegue abrir uma conta em uma corretora de valores americana com a mesma facilidade de abrir uma conta em uma corretora brasileira, ou até mesmo de abrir uma conta em uma rede social qualquer.
Mais do que isso, pra enviar o dinheiro pra fora hoje em dia também é muito mais fácil e barato do que era antigamente. Não estou falando que é barato, mas que não é tão caro quanto já foi um dia.
Hoje em dia, a gente já tem algumas Startups que prestam esse serviço de remessa internacional, são startups com estrutura enxuta e poucos custos, e aí elas conseguem diminuir bastante os custos operacionais. E detalhe, quanto mais startup entra no mercado, maior vai ser a concorrência e mais irá diminuir os custos.
Antigamente e durante quase toda a trajetória do mestre Barsi, pra mandar dinheiro pro exterior, caso fosse possível, ele teria de fazer pelos bancos tradicionais. Só que naquela época essa operação realmente era muito mais cara, além do que os próprios bancos não estavam muito acostumado sobre como fazê-la, a dor de cabeça era bem grande.
E quanto a questão de que o dólar está alto, bem, na realidade isso aí é bastante controverso e, no longo prazo, não faz a menor diferença.
Eu já fiz essa demonstração no canal, no vídeo chamado “VALE A PENA investir no EXTERIOR com A ALTA DO DÓLAR? É um bom momento pra comprar ações americanas?”.
Em todo caso, o ponto é que se investir no exterior já foi algo inacessível para os brasileiros em outros tempos, eis que, quando não proibido, era muito complicado e caro o processo de abertura de conta e compra de dólares, hoje em dia o cenário já está bem diferente.
Hoje em dia, o mercado internacional já está acessível para o investidor pessoa física de varejo, aquele sujeito que tem pouca renda, e pode fazer tudo em poucos cliques e com a mesma simplicidade que teria caso optasse por comprar na B3.
Motivo n. 2 do Barsi: A distância atrapalha os investimentos no exterior
Pois é, o Barsi também disse recentemente que a distância é um dos fatores pelos quais ele acredita que investir no exterior não vale a pena. Como ele está no Brasil, ele acha que investir em nova Iorque por exemplo é um problema por causa da distância.
Bem, mais uma vez, talvez isso fizesse sentido no passado. Po, até 2009 o pregão era vivo a voz, realmente era importante o investidor estar próximo da bolsa porque ainda tinha que ir pra lá pra acompanhar o pregão.
Mas hoje em dia, em tempos de internet, que diferença faz se as ações estão sendo negociadas em São Paulo, em Nova Iorque, em Tokio, ou seja lá onde for. Pra acessar qualquer um desses mercados, tudo que você precisa é de um celular e sinal de internet.
Não é por acaso que essa galera mais nova, principalmente o pessoal que é gamer, muitos deles tem amigo ao redor de todo o planeta. Antigamente, o que unia as pessoas era principalmente a distância física, hoje em dia, o que une é principalmente os interesses em comum.
E mais, quem mora nos extremos do Brasil também investe em SP a quilômetros de distância também. Sem contar que tem muito Brasileiro que já foi pra Nova Iorque e conheceu tudo lá em Wall Street e nunca na vida colocou o pé dentro da B3.
E uma curiosidade a mais é que algumas cidades do norte do Brasil estão mais perto da Florida do que de São Paulo. Por exemplo, Boa Vista, que é a capital de Roraima, está a 3292 quilometros de Miami e a 3302 quilometros de São Paulo.
Bem, eu sei que a bolsa americana não está na Florida, mas achei interessante trazer essa informação mesmo assim, pra mostrar que distância hoje em dia não significa absolutamente nada.
E mais, mesmo antigamente, quando a distância era um problema, já não era realmente um problema pra alguém do tamanho do Barsi.
O sujeito tem um bilhão de reais, com todo esse patrimônio, se ele quisesse ele poderia almoçar em Londres e jantar em Tokio toda semana. Então, pra ele, a distância nunca nem foi um problema.
Então, honestamente, com todo respeito ao mestre, eu acho que ele foi bastante infeliz em alegar que a distância é um problema que pode atrapalhar quem quer investir no exterior.
No pior dos casos, você vai precisar dar um pulinho em uma agência bancária quando estiver de férias em outro país pra abrir uma conta em dólares, caso você não consiga abrir diretamente daqui.
Motivo n. 3 do Barsi: você não conhece o custodiante do seu dinheiro
Um dos outros motivos pelo qual o Barsi diz que investir fora do brasil não é uma boa é porque você vai estar colocando o seu dinheiro nas mãos de pessoas que você não conhece.
E, bem, nesse ponto eu concordo em partes. Porque tem muita gente que quer investir fora, ou melhor, fazer trade, e daí vai abre uma conta em corretora de forex ou até de opções binárias que são instituições com pouco renome, fortemente suspeitas, e como estão sediadas lá em paraísos fiscais, se o sujeito sumir com o seu dinheiro, bem, não vai ter muito o que você possa fazer.
SÓ QUE, sinceramente, golpista tem tanto lá fora quanto aqui no Brasil e quem cai nesse tipo de golpe poderia ter caído caso tivesse investindo por aqui.
Além do que é bem simples de se resolver esse problema. Procure por instituições que são sólidas. Pra você ter ideia, tem banco na europa que é mais antigo que o próprio brasil. Esse tipo de empresa dificilmente vai sumir do dia pra noite.
Tem corretoras de valores internacionais que tem mais dinheiro sob sua custódia que todas as corretoras brasileiras juntas. E mais, tudo isso sujeito a rígidas regras de compliance e auditorias periódicas.
Honestamente, a chance de uma instituição financeira dessas quebrar é praticamente a mesma ou até menor do que a chance de um grande banco brasileiro quebrar.
E, se quebrar, muitas das instituições também são garantidas pelo SIPC, que é uma espécie de fundo garantidor de crédito que eles tem lá pro caso de quebra, que em regra te ressarcem até US$ 500 mil dólares.
E como se não bastasse, hoje em dia já tem corretora lá fora que presta serviço especializado para brasileiros, com atendimento totalmente em português. Duas dessas corretoras foram criadas por grandes nomes aí do mercado financeiro brasileiro, pessoas que tem credibilidade, e são negócios idôneos.
Então, novamente, eu peço licença pra discordar do Barsi porque, se você tomar o cuidado de escolher uma instituição séria para depositar o seu dinheiro, é provável que você esteja até mais seguro do que se tivesse depositado em algumas instituições brasileiras, sem citar nomes aqui.
Motivo n. 4 do Barsi: as verdadeiras oportunidades estão no Brasil
Pois é, nós brasileiros temos essa tendência de acreditar que as verdadeiras oportunidades estão no nosso país, que isso aqui é uma terra fértil para negócio.
Afinal, quase todo brasileiro, assim como eu, é apaixonado pelo próprio país e tem aquele sonho de criança de ver o brasil prosperar e se tornar primeiro mundo pra nos encher de orgulho.
Imagina o Brasil em que todos tem comida na mesa, educação, emprego, casa boa, carro, estradas largas, asfalto bom. Que brasileiro não quer isso?
Mas, honestamente, não é querendo desiludir ninguém e sim querendo ser realista. O Brasil fato é um país problemático, e nossos problemas são crônicos.
O Brasil é um país com enorme insegurança jurídica, com crise econômica e política constantes, com histórico de calote na dívida e hiperinflação, com péssimo histórico monetário, com uma moeda que tem tendência de se desvalorizar rapidamente, considerado especulativo pelas principais agências de rating.
Um país cujo mercado, em dólares, está em queda há 12 anos, um país que atualmente está correndo um risco razoável de quebrar, de comprometer todo o pib com dívidas em alguns poucos anos, um país que troca de constituição e de moeda que nem troca de roupa, que dá calote em dívidas.
Somos um dos países com menor liberdade econômica do planeta, um país difícil de empreender, um país que o tempo de vida das empresas é curto, mesmo o de empresas listadas nas bolsas de valores.
Portanto, não é querendo desmerecer o Brasil porque eu também amo meu país e a minha cidade, mas é uma questão de saber quem a gente é no mundo.
Você acha que as melhores oportunidades estão por aqui? Onde será que tem maior chance de você encontrar uma boa empresa, nos 400 papeis listados na B3 ou nos cerca de 20 mil disponíveis no mercado americano?
Pois é, eu acho que você já sabe a resposta.
Na minha opinião, o Barsi é o “Warren Buffett brasileiro” porque se limitou ao Brasil. Se não tivesse essa barreira seria maior que o Warren Buffett. O Warren Buffett é quem seria o “Barsi americano”.
